Sétimo dia – 12 de julho de 2009

O choque já está diminuindo. Os retardos e seqüelas que surgiram e eram tão fortes no início estão se dissipando. Exceto quando estou sozinho, aí é impossível não sentir a dor latente. O tempo parece estar andando mais normalmente, ou pelo menos mais parecido com o que andava. Meu cérebro já não parece mais tão cansado.

Consigo andar normalmente agora, só me sinto um pouco fraco as vezes ainda. A coordenação motora ainda não está das melhores. Os sons estão mais distintos. Estou conseguindo organizar melhor os pensamentos e as palavras. Acho que estou chato, porque eu não expresso muitas emoções. Não consigo mais rir como antes. Não consigo mais ser simpático como antes. Nem consigo ser mais tão antipático.

Depois de ontem, eu passei a entender melhor tudo o que passou com Bruna nesses últimos três anos. Não julgue o que você não conhece! Esse é o meu principal lema e eu o traí sem ao menos sentir. Mas ontem, foi suficiente pra saber que tudo pelo que estou passando, ela já passa há três e eu não percebi. Senti-me tão mal! Ela é minha melhor amiga e como pude deixar de notar isso. Bom, pelo menos não estou sozinho nessa.

Essa semana tem Harry Potter. Estou ansioso para a estréia. Edward estará lá e eu ainda não sei como vou me comportar. Não sei se conseguirei olhar pra ele e não poder beijar, abraçar, acariciar. Por que eu também sou tão masoquista? Não faço a menor idéia. Apenas sei que preciso desse veneno para sobreviver. Ruim com ele e pior ainda sem ele.

Grande parte dessa “recuperação” que eu tive esses dias, se deve ao fato de estar em contato com ele diariamente. Eu preciso dele. Eu não consigo mais me imaginar sem ele. É como se ainda estivéssemos juntos e essa ilusão que machuca, ao mesmo tempo é suficiente para me manter lúcido. Lúcido?

Eu tenho ouvido vozes. Tenho o visto onde ele não está. Tenho pensado nele quando menos quero pensar. Porque mesmo tendo sido pouco tempo, foi tempo suficiente para ter sido tão forte. Tempo suficiente para qualquer lugar, qualquer ato, qualquer cheiro e qualquer coisa lembrá-lo. Então assim se torna fácil tê-lo na minha mente. Machuca, mas eu gosto.

Morrer não é suficiente. Mesmo porque não tenho coragem para tirar minha própria vida. Nem pedir para que outra pessoa capaz o faça. Morrer? De que adiantaria? De qualquer forma, há uma coisa que me prende na terra até os 19 anos.

Não voltarei mais a ser o que era. Não vejo porquê voltar. Não quero voltar. Não preciso voltar. Não vejo mais porquê fazer muita coisa. Não vejo mais graça no que via antes. Então... Já não resta mais nada... O que eu estou fazendo aqui? Nada! Só vou continuar até que chegue minha hora. E assim talvez eu parta feliz por ter sido feliz durante quatro meses maravilhosos.